Lula aprova proposta que elimina autoescolas e corta 300 mil empregos

Lula aprova proposta que elimina autoescolas e corta 300 mil empregos

out, 3 2025

Quando Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República assinou a proposta que pode acabar com a obrigatoriedade das autoescolas para tirar a CNH, o país mergulhou numa discussão que mistura economia, segurança e inclusão social.

A medida, já aprovada em nível executivo, será formalizada por meio de uma resolução do Contran após 30 dias de consulta pública iniciada em 2 de outubro de 2025. O objetivo declarado: reduzir em até 80% o preço da primeira habilitação, que hoje gira entre R$ 3 mil e R$ 4 mil.

Contexto histórico das autoescolas no Brasil

Desde a década de 1970, as autoescolas são a porta de entrada oficial ao trânsito brasileiro. Elas oferecem aulas teóricas, prática de direção e, ao final, emitem o comprovante que permite ao candidato fazer as provas no Detran. Porém, o modelo sempre foi criticado por altos custos e burocracia. Segundo o Ministério da Infraestrutura, cerca de 20 milhões de brasileiros dirigem sem habilitação – um número que o governo quer reduzir.

Na prática, o preço da CNH inclui taxação de exames, taxa de emissão, aluguel de salas de aula, compra de veículos para aulas práticas e ainda a margem de lucro das próprias escolas. Esse conjunto gera um peso financeiro que, para muitas famílias, equivale a um mês inteiro de salário.

Detalhes da medida e estimativas de custos

O texto da proposta, divulgado na plataforma Consulta Pública sobre a flexibilização das autoescolasBrasil, prevê que o candidato poderá escolher entre duas opções:

  1. Matricular‑se em uma autoescola tradicional, como acontece hoje.
  2. Contratar um instrutor certificado, que prestará as aulas de forma autônoma, sem vínculo com escola.

Em ambos os casos, as provas teórica e prática permanecem obrigatórias. O ministro da Infraestrutura, Renan Filho, explicou que a flexibilização deve gerar economia nas alíquotas de inspeção e nos custos administrativos, reduzindo o valor final da habilitação para algo entre R$ 750 e R$ 1.000.

Esses números são baseados em um estudo interno do Ministério que considerou a redução de encargos com infraestrutura de ensino, ao mesmo tempo que manteve a exigência de 20 horas de aula prática – a mesma carga horária mínima exigida hoje.

Reações do setor de autoescolas e projeções de empregos

Não é surpresa que o segmento das autoescolas tenha se mobilizado rapidamente. Representantes da Associação Nacional das Autoescolas (ANA) alegam que a proposta pode levar ao fechamento de mais de 15 mil estabelecimentos e à perda de até 300 mil empregos diretos, sem contar os efeitos colaterais em postos de manutenção de veículos e fornecedores de material didático.

Segundo dados da Senatran, o setor emprega, em média, 20 pessoas por unidade: instrutores, administrativos, mecânicos e pessoal de apoio. Uma redução de 15 mil escolas, portanto, tem um impacto multiplicador que pode reverberar em pequenas cidades onde a autoescola é um dos poucos geradores de renda.

Por outro lado, economistas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontam que a diminuição dos custos de habilitação pode estimular a entrada de novos motoristas, aumentando a demanda por veículos novos e, potencialmente, compensando parte dos empregos perdidos com crescimento nas concessionárias e seguradoras.

Análise de especialistas: segurança, inclusão e impacto social

O debate não se resume ao número de vagas. A segurança no trânsito é outro ponto crítico. A socióloga Cláudia Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP), observa que a qualidade do ensino é tão importante quanto o preço: "Se a formação for fragmentada, há risco de aumento de infrações graves, mesmo que o número de motoristas licenciados cresça".

Em contrapartida, o especialista em políticas públicas, André Souza, argumenta que a actualização dos exames do Detran, que já passaram por reformas tecnológicas, pode mitigar esses riscos. "A digitalização dos testes teóricos e a padronização das avaliações práticas são instrumentos que garantem a uniformidade, independentemente de quem dê a aula", disse.

Do ponto de vista da inclusão, a proposta tem defensores vigorosos. Organizações de defesa dos direitos humanos alegam que a barreira financeira impede a mobilidade social de milhares de jovens nas periferias. A redução de custos pode abrir portas para empregos que exigem deslocamento, contribuindo para a diminuição da informalidade.

Próximos passos e como funciona a consulta pública

A consulta pública permanece aberta até 31 de outubro de 2025 na plataforma 'Participa + Brasil'. Desde a abertura, já foram registradas mais de 12 mil contribuições, variando de sugestões de ajustes nos requisitos de certificação de instrutores até críticas ao modelo de avaliação.

Após o encerramento, o Ministério da Infraestrutura enviará o texto consolidado ao Contran. O conselho tem até 90 dias para deliberar, se aprovar ou solicitar modificações. Caso a medida seja aprovada, a nova norma deverá entrar em vigor no primeiro semestre de 2026.

Enquanto isso, o setor de autoescolas está se organizando para apresentar um plano de transição que inclua a capacitação de seus próprios instrutores como professores autônomos, na tentativa de preservar empregos e adaptar-se ao novo cenário.

Resumo dos principais pontos

  • Presidente Luiz Inácio Lula da Silva aprova proposta que elimina obrigatoriedade das autoescolas.
  • Objetivo: reduzir custo da CNH de R$ 3‑4 mil para R$ 750‑1.000.
  • Ministro Renan Filho defende a medida como forma de democratizar o acesso.
  • Setor reclama risco de fechar 15 mil escolas e perder 300 mil empregos.
  • Consulta pública aberta até 31/10/2025; decisão final cabe ao Contran.

Perguntas Frequentes

Como a mudança pode impactar os motoristas que já possuem CNH?

Os motoristas já licenciados não sofrerão alterações nas suas habilitações. A medida afeta apenas quem ainda está em processo de obtenção da CNH, oferecendo novas opções de preparação para os exames.

Quais são os critérios para que um instrutor seja considerado "certificado"?

O Ministério da Infraestrutura exige que o candidato a instrutor tenha no mínimo 5 anos de habilitação, curso de formação reconhecido pelo Detran e aprovação em exame de aptidão pedagógica. O registro será feito em um banco de dados nacional.

O que acontece se a qualidade do ensino cair após a flexibilização?

A lei mantém a obrigatoriedade dos testes prático e teórico, que continuam a ser avaliados pelos mesmos padrões do Detran. Caso os índices de reprovação aumentem, o Contran pode emitir normas complementares de fiscalização.

Quais regiões do país devem sentir mais intensamente a perda de empregos?

Cidades de médio porte onde a autoescola representa um dos poucos empregadores formais – como interior de Minas Gerais, Paraná e Bahia – podem observar maior impacto. Em capitais, a diversificação de atividades tende a amortecer a queda.

Quando a nova norma deve entrar em vigor, caso seja aprovada?

A previsão é que a regulamentação seja publicada no início de 2026, com implementação gradual ao longo do ano para permitir a adaptação de escolas e instrutores ao novo modelo.

1 Comment

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    Leonardo Santos

    outubro 3, 2025 AT 09:29

    Não é coincidência que, nesse momento, o governo empurre a desregulamentação das autoescolas enquanto silencia vozes críticas; o panorama parece um tabuleiro de xadrez onde as peças são manipuladas por mãos invisíveis. A proposta soa como um convite aberto a um mercado negro de instrutores sem escrúpulos, alimentando a ideia de que o Estado quer nos afastar da vigilância. Se a teoria conspiratória tem algum fundamento, esta medida foi idealizada para abrir brechas a interesses corporativos de locadoras de veículos. A redução drástica de custos pode ser fachada para acelerar a rotatividade de motoristas, gerando maior consumo de combustível e, consequentemente, impostos. Além disso, a perda de 300 mil empregos pode ser disfarçada como uma “necessária modernização”. Por fim, cabe lembrar que a história nos ensinou que grandes reformas econômicas costumam deixar rastros de injustiça social profundos.

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