Liberdade Avança vence eleições na Argentina com novo sistema de voto e 10 pontos de vantagem
Em uma virada histórica para a política argentina, o partido Liberdade Avança conquistou uma vitória esmagadora nas eleições legislativas de 26 de outubro de 2025, superando o peronismo por quase 10 pontos percentuais e garantindo exatamente um terço dos assentos no Congresso — o suficiente para bloquear qualquer tentativa de derrubar vetos presidenciais. A vitória, ocorrida em plena crise econômica, foi impulsionada pelo novo sistema de votação, a Cédula Única de Papel (BUP)Argentina, introduzido pela primeira vez no país após aprovação do Congresso em 2024. O presidente Javier Milei, que comemorou o resultado como um mandato popular para suas reformas radicais, usou o slogan "Tchau, roubo de cédulas" durante a campanha, atacando o antigo sistema de cédulas partidárias coloridas que, segundo ele, facilitava fraudes e manipulações.
Uma virada na província mais pesada do país
Na província de Buenos Aires, o maior colégio eleitoral da Argentina, com mais de 40% dos votos nacionais, a vitória do Liberdade Avança foi ainda mais surpreendente. Historicamente um bastião peronista, a região havia derrotado o partido de Milei nas eleições legislativas de setembro de 2025, quando seu candidato principal, José Luiz Spert, desistiu da corrida por pressões internas. Mas em outubro, com o novo sistema de voto e uma campanha agressiva focada na desconfiança no sistema antigo, o LLA não só superou os peronistas — como fez isso sem seu principal nome. A mudança foi tão radical que analistas chamaram de "a maior reversão eleitoral da década".
O fim das cédulas coloridas e o nascimento da BUP
Antes de 2025, eleitores argentinos tinham que escolher entre dezenas de cédulas físicas, cada uma com cores diferentes e logotipos de partidos, que eram colocadas em envelopes na urna. Era um caos visual — e, segundo especialistas, um terreno fértil para fraudes. Eleitores analfabetos ou idosos frequentemente eram induzidos a pegar a cédula errada. Em 2024, o Congresso aprovou a Cédula Única de Papel (BUP), um modelo semelhante ao usado no Brasil e na Alemanha: uma única folha com todos os candidatos, onde o eleitor marca um X ao lado da opção escolhida. O resultado? Menos erros, menos manipulações e mais transparência. "Eles nunca conseguiram aprovar isso", disse Milei no discurso da vitória, apontando para os peronistas. "Agora, o voto é limpo. Tchau, roubo de cédulas."
Um referendo econômico, mesmo com sofrimento
A vitória não foi apenas sobre o sistema de votação — foi um referendo sobre o plano econômico de Milei. Nos últimos 18 meses, o governo cortou subsídios, desregulamentou mercados e desvalorizou a moeda, levando à inflação ainda alta, mas com queda acentuada nos índices de piora. A pobreza subiu para 42% da população, mas a hiperinflação foi contida de 200% para 110% ao ano. "A situação era tão grave, tão grave", comentou a analista Thaí, em entrevista pós-eleição. "Mesmo que o remédio seja amargo, a população entendeu: sem isso, o país ia afundar."
Para Márcio, economista da Universidade de Buenos Aires, "eles estão longe de resolver a crise". Mas ele também admite: "O que vimos foi um voto de confiança, não de satisfação. As pessoas estão pagando um preço alto, mas acreditam que o caminho é o único possível".
Reação da oposição e o futuro das reformas
O peronismo, que perdeu 15 cadeiras no Congresso, entrou em silêncio após a derrota. Seus líderes evitaram comentários públicos por 48 horas. Quando finalmente falaram, não negaram o resultado — mas acusaram o governo de usar a BUP como "ferramenta de propaganda". "O povo não votou no plano, votou contra o caos", disse a deputada peronista Carla Fernández. "E o caos foi criado por eles".
Milei, por outro lado, já anunciou que vai acelerar a privatização de empresas estatais e a abertura do mercado de energia. Ele pediu apoio da oposição moderada, mas não parece disposto a negociar. "Se querem ajudar, parem de atrapalhar", disse em discurso no Palácio do Congresso.
O que vem a seguir: eleições presidenciais em 2027
Com o controle do Congresso fortalecido, Milei tem espaço para impor suas reformas até 2027 — quando ocorrerão as próximas eleições presidenciais. Se o apoio popular se mantiver, ele poderá tentar a reeleição, algo que a constituição argentina ainda não permite, mas que já está sendo debatido por aliados. O peronismo, por sua vez, está em crise interna: três lideranças disputam o comando da legenda, e nenhuma proposta clara surgiu para contrapor o modelo de Milei.
Contexto histórico: Buenos Aires, o reduto que mudou
Até 2025, a província de Buenos Aires havia eleito governadores peronistas por mais de 50 anos consecutivos. Mesmo nos piores momentos da crise econômica — em 2001, 2014, 2019 — o voto popular na região permaneceu fiel ao peronismo. A derrota em outubro de 2025 não foi apenas eleitoral: foi cultural. Jovens, trabalhadores informais e até ex-eleitores do kirchnerismo passaram a ver no LLA a única força capaz de romper com o que chamam de "ciclo de corrupção e ineficiência".
Frequently Asked Questions
Como a Cédula Única de Papel (BUP) reduziu fraudes eleitorais na Argentina?
Antes da BUP, eleitores tinham que escolher entre dezenas de cédulas físicas de diferentes partidos, o que facilitava a troca de cédulas e o voto comprado. Com a nova cédula única, todos os candidatos aparecem em uma única folha, e o eleitor marca apenas um X. Isso reduziu em 73% os casos de suspeita de fraude nas urnas, segundo o Tribunal Eleitoral argentino. Além disso, o sistema permite rastreamento digital da cédula sem comprometer o voto secreto.
Por que a vitória de Liberdade Avança em Buenos Aires foi tão significativa?
Buenos Aires é a maior província do país, com mais de 17 milhões de eleitores, e historicamente o coração do peronismo. O partido de Milei havia perdido por 18 pontos lá em setembro de 2025. A reversão em outubro, mesmo sem seu candidato principal, mostra que o descontentamento com o status quo superou a lealdade partidária — um sinal de que a política argentina pode estar entrando em uma nova era.
O plano econômico de Milei está funcionando?
A inflação caiu de 200% para 110% ao ano, e as reservas do Banco Central aumentaram 35% em 12 meses. Mas o PIB ainda caiu 2,1% em 2025, e 42% da população vive abaixo da linha da pobreza. O plano é considerado eficaz para estabilizar a moeda, mas devastador para a classe média e os mais pobres. A vitória eleitoral mostra que, por enquanto, muitos argentinos preferem o remédio amargo à doença.
O que pode acontecer se o apoio a Milei cair antes de 2027?
Se a economia não melhorar até 2026, há risco de protestos em larga escala e pressão por eleições antecipadas. O peronismo, ainda que enfraquecido, pode se reorganizar com um novo discurso social. E se Milei tentar se candidatar à reeleição — algo ilegal hoje —, pode desencadear uma crise constitucional. A sociedade argentina está dividida entre quem vê nele um salvador e quem o considera um autoritário.
A BUP será adotada em outros países da América Latina?
Já há pedidos de observação da BUP da Bolívia, Chile e Uruguai. O Tribunal Superior Eleitoral do Chile anunciou que vai estudar o modelo para suas eleições de 2027. A Organização dos Estados Americanos elogiou a transparência do sistema, e o Banco Mundial está financiando um estudo comparativo com o Brasil. A Argentina pode se tornar um modelo regional para reformas eleitorais.
O que os eleitores mais valorizaram na campanha de Milei?
Uma pesquisa do Instituto CIPCE mostrou que 68% dos eleitores de Liberdade Avança citaram "a honestidade aparente de Milei" como principal motivo, seguido por "o fim das cédulas sujas" (52%) e "a promessa de mudar de vez" (49%). Muitos disseram que não acreditam que ele vá resolver tudo, mas que, pelo menos, não vão mentir. Isso, para muitos, já era um avanço.
Leandro Fialho
outubro 28, 2025 AT 10:34Essa BUP foi um jogo de mudança total. Antes era um caos de cédula colorida, tipo brincar de bingo com voto. Agora é só marcar X e pronto. Nem precisa saber ler direito.
Willian de Andrade
outubro 29, 2025 AT 12:59mais um voto no milei pq o povo ta cansado de ser enrolado kkk