Câmara aprova isenção do IR para quem ganha até R$5 mil: impacto no PIB e inflação

Câmara aprova isenção do IR para quem ganha até R$5 mil: impacto no PIB e inflação

out, 6 2025

Quando Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República Governo Federal assinou, em março de 2025, o projeto que isenção do Imposto de Renda seria ampliada, poucos imaginaram que, na noite de 1º de outubro de 2025, a Câmara dos Deputados votaria unanimemente a favor. A medida, que entra em vigor em 2026, eleva a faixa livre de tributo para quem recebe até R$ 5.000 mensais – quase o dobro da referência de R$ 2.824 vigente desde 2015. Fernando Haddad, Ministro da Fazenda Governo Federal destacou que o objetivo não é aumentar a arrecadação, mas corrigir uma injustiça fiscal histórica.

Contexto histórico da tributação no Brasil

Desde a reforma da tabela do IR de 2015, a inflação corroía o poder de compra dos trabalhadores, fazendo com que rendas que antes eram isentas passassem a ser tributadas. Esse descompasso provocou um "efeito quebra de escada", onde a progressividade do imposto parecia desaparecer. A última alteração antes da atual foi em 2015, e, segundo dados do IBGE, a renda média dos 90% com menores salários ficou quase 15% abaixo da linha de isenção.

Na prática, quem ganhava R$ 2.500 por mês pagava cerca de 7,5% em IR, enquanto quem recebia R$ 5.100 já ficava na segunda faixa, pagando até 27,5%. Essa disparidade gerou críticas de sindicatos e organizações de defesa do consumidor ao longo dos últimos três anos.

Detalhes da nova faixa de isenção

A lei aprovada estabelece que, a partir de 1º de janeiro de 2026, o contribuinte que declarar renda mensal de até R$ 5.000 estará totalmente livre do Imposto de Renda. Isso cobre aproximadamente 90% da população ativa, equivalendo a cerca de 20 milhões de trabalhadores, entre formal e informal.

  • Faixa antiga: até R$ 2.824 – 13% de alíquota mínima.
  • Nova faixa: até R$ 5.000 – 0% de alíquota.
  • Benefício direto: cerca de R$ 250 a R$ 600 a mais por mês, dependendo da renda.
  • Impacto estimado: aumento de consumo de até 2,3% no PIB em 2026, segundo projeções da ARX.

A implementação será feita por meio de ajuste nas tabelas da Receita Federal, com simplificação nos programas de declaração online. O contribuinte que já estava enquadrado na faixa de isenção anterior não precisará de nenhuma ação adicional.

Reações de autoridades e especialistas

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, elogiou a medida, afirmando que "vai colocar mais dinheiro na mão das famílias e dinamizar a economia estadual". Por outro lado, o presidente do Conselho Monetário Nacional, Roberto Campos Neto, alertou para o risco de pressão inflacionária, sobretudo nos serviços.

“É um ajuste marginal, não uma reforma estrutural”, observou Gabriel Leal de Barros, economista‑chefe da ARX. “O efeito multiplicador vai surgir nos gastos de consumo, mas precisamos monitorar a reação dos preços, sobretudo em restaurantes e transportes”.

A confederação nacional de comércio, representada por Marcos Almeida, apontou que o aumento da demanda pode gerar gargalos de oferta se a produção não acompanhar, elevando o risco de "inflação de demanda".

Impactos econômicos esperados

Segundo a projeção da ARX, o PIB poderá crescer 0,5 ponto percentual a mais em 2026 graças ao aumento da renda disponível. O consumo de bens duráveis, como eletrodomésticos e veículos leves, deve subir 1,8% em relação ao ano anterior.

Entretanto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está previsto em 4,83% para 2025 e 4,7% para 2026 – números que já geram preocupação para o Banco Central do Brasil. A elevação da demanda por serviços – hotéis, restaurantes e telecomunicações – pode pressionar o componente de inflação de serviços em até 0,3 ponto percentual.

Em termos de emprego, o Ministério da Economia estima que a medida pode gerar até 250 mil novos postos formais ao estimular setores de varejo e construção civil, que tendem a contratar mais quando a confiança do consumidor sobe.

Desafios para a política monetária e perspectivas

Desafios para a política monetária e perspectivas

O principal dilema para o Banco Central será equilibrar a necessidade de conter a inflação sem sufocar o estímulo ao crescimento. A taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, pode precisar de ajustes graduais se a inflação de serviços ultrapassar a meta de 3,0% ao ano.

Por outro lado, o enfraquecimento do dólar americano no cenário global pode melhorar a conta externa e aliviar parte da pressão inflacionária sobre bens importados, como alimentos e insumos industriais. Essa dinâmica ajudará a conter a alta de preços em segmentos sensíveis.

Em síntese, a medida representa uma tentativa de alinhar a política fiscal com a realidade socioeconômica dos 90% da população que ganha até R$ 5 mil. Se bem calibrada, pode gerar um ciclo virtuoso de consumo, investimento e geração de empregos. Porém, se a pressão inflacionária não for contida, o ganho real das famílias pode ser corroído em poucos meses.

Conclusão

O Brasil entra em 2026 com uma das maiores mudanças na sua estrutura tributária dos últimos dez anos. A decisão da Câmara e a assinatura presidencial refletem um consenso político em torno da justiça fiscal, mas também colocam à prova a capacidade de condução da política monetária. O que está claro é que, nos próximos meses, consumidores, empresários e reguladores estarão de olho nos números – especialmente no IPCA e na Selic – para avaliar se a isenção do Imposto de Renda vai realmente aquecer a economia sem acelerar a inflação.

Perguntas Frequentes

Quantas pessoas serão beneficiadas pela nova faixa de isenção?

A medida beneficia cerca de 20 milhões de trabalhadores, o que corresponde a aproximadamente 90% dos contribuintes que recebem até R$ 5.000 mensais. Dessas, 10 milhões deixariam de pagar IR a partir de 2026, somando-se aos já isentos pelas alterações de 2023‑2024.

Qual é a expectativa de impacto no PIB brasileiro?

Especialistas da ARX projetam um acréscimo de 0,5 ponto percentual no PIB de 2026, impulsionado principalmente pelo aumento da demanda de consumo e pelas compras de bens duráveis. Esse efeito é descrito como "multiplicador de renda".

Como a medida pode influenciar a inflação?

A principal preocupação é a inflação de serviços, que pode subir cerca de 0,3 ponto percentual devido ao maior poder de compra. O IPCA geral já está projetado em 4,7% para 2026, acima da meta de 3% do Banco Central, o que pode levar a ajustes na taxa Selic.

O que o Banco Central pode fazer para conter a inflação?

A principal ferramenta é a taxa Selic. Caso a inflação de serviços pressione acima da meta, o Banco Central pode elevar gradualmente a Selic, embora isso aumente os custos de crédito e possa frear parte do crescimento econômico.

A isenção do IR é considerada uma reforma fiscal completa?

Não. Economistas como Gabriel Leal de Barros apontam que se trata de um ajuste pontual, não de uma reestruturação da carga tributária. A profundidade da reforma ainda depende de futuras mudanças no sistema de impostos sobre consumo e empresa.

1 Comment

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    Rael Rojas

    outubro 6, 2025 AT 02:38

    Ao contemplarmos a recente isenção do IR, percebemos que não se trata apenas de um ajuste fiscal, mas de uma redefinição da própria justiça tributária; a lógica subjacente ecoa as ideias kantianas de moralidade universal, ainda que, ironicamente, o Estado ainda tropeçe na própria coerência. A proposta de elevar a faixa livre até R$5 mil coloca em xeque a antiga estrutura de progressividade que, até então, parecia mais um castelo de cartas que balança a cada inflação. É claro que, para os 90% da população, o alívio será imediato, mas será suficiente para mitigar o efeito “quebra de escada” que tanto assombra os economístas. O ponto crucial, porém, reside na capacidade do Banco Central de absorver o potencial aumento da demanda sem sacrificar a meta de inflação. Assim, a isenção pode ser vista como um pequeno passo rumo a um futuro mais equitativo, ainda que ainda haja muito a ser feito.

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