Ajuda entra em Gaza via Rafah: Egito promete 400 caminhões

Ajuda entra em Gaza via Rafah: Egito promete 400 caminhões

out, 14 2025

Quando Abdel Fattah el‑Sisi, presidente do Egito, anunciou a liberação dos primeiros caminhões de ajuda humanitária, a expectativa era enorme. Na manhã de domingo, 12 de outubro de 2025, cerca de 47 veículos atravessaram o ponto de passagem de Rafah, na Faixa de Gaza, acompanhados por representantes da Sociedade da Cruz Vermelha Egípcia. O movimento marcou o início de um fluxo previsto de 600 caminhões diários, prometido em decorrência do cessar‑fogo de 10 de outubro de 2025Gaza. A liberação só ocorreu depois que o Hamas confirmou, através de mediadores, que iria soltar os reféns israelenses na segunda‑feira, 13 de outubro.

Contexto do cessar‑fogo e preparação da fronteira

O acordo, negociado por delegações da Arábia Saudita, Turquia e Suíça, prevê uma escalada drástica na entrega de suprimentos. Segundo a UN OCHA, representada pela Joyce Msuya, já estavam armazenadas 170.000 toneladas métricas de ajuda nas proximidades de Rafah, prontas para embarque.

Para tornar isso viável, a Sociedade da Cruz Vermelha Egípcia contou com o apoio logístico do Exército egípcio, que, em 11 de outubro, concluiu a reforma da correia transportadora do cruzamento, reduzindo o tempo de descarga de quatro horas para menos de uma hora.

Detalhes da primeira entrega

O comboio inicial transportou 1.200 toneladas métricas de insumos, entre eles 45 mil kits de trauma, 18 mil mantas e 9,5 mil barracas. Também foram incluídos 22 mil litros de combustível e 500 toneladas de mantimentos (farinha de trigo, feijão enlatado e óleo de cozinha). Cada caminhão passou por inspeção rigorosa da Força de Defesa de Israel (IDF), sob a supervisão do Ofer Winter, brigadier‑general do IDF. O tempo médio de liberação foi de 45 minutos por veículo.

O Enrico Palermo, diretor do World Food Programme (WFP) para o território palestino ocupado, declarou que o volume enviado é "suficiente para alimentar toda a população de Gaza, mais de dois milhões de pessoas, por até três meses".

Reações e desafios operacionais

Reações e desafios operacionais

Apesar do entusiasmo, obstáculos persistem. O bloqueio israelense, imposto pela Ordem Militar 1661/2023, ainda impede a entrada de 37 categorias de bens, incluindo fórmulas infantis e certos medicamentos. Além disso, entre janeiro e junho de 2025, foram registrados 1.247 incidentes de roubo de convênios humanitários por grupos armados.

Organizações de socorro também enfrentam risco de ataques: 89 trabalhadores humanitários perderam a vida desde o início do conflito, entre eles 23 da World Central Kitchen, mortos em um bombardeio em 1º de abril.

Impacto humanitário e projeções

O relatório da Comissão de Revisão de Fome da ONU, divulgado em 28 de agosto de 2025, classificou o norte da Faixa de Gaza como em fase de fome (IPC Fase 5), afetando 563 mil palestinos. Se a taxa de 600 caminhões diários não for mantida, a UNICEF alerta que 523 mil crianças menores de cinco anos podem entrar em estado de desnutrição aguda até dezembro.

Até agora, apenas 20,3 % da ajuda necessária – cerca de 87.400 toneladas das 430.000 previstas para o terceiro trimestre de 2025 – chegou ao território, criando um déficit de financiamento de US$ 1,2 bilhão para operações de emergência até o final do ano.

Próximos passos e a Conferência Internacional de Paz

Próximos passos e a Conferência Internacional de Paz

A Conferência Internacional de Paz em GazaSharm El‑Sheikh está marcada para os dias 15 e 16 de outubro. Delegações de 47 países, incluindo os EUA (representados por Marco Rubio) e a França (representada por Stéphane Séjourné), participarão sob a mediação do secretário‑geral da ONU, António Guterres. O objetivo é consolidar o cessar‑fogo, ampliar o corredor humanitário e garantir recursos financeiros para sustentar o fluxo de 600 caminhões diários.

Enquanto isso, o Egito encaminha mais 400 caminhões nos próximos três dias, totalizando cerca de 10.000 toneladas. Se tudo correr conforme o planejado, a ajuda poderia suprir as necessidades básicas da população por até três meses, porém a continuidade dependerá da estabilidade política e da segurança nas rotas.

Perguntas Frequentes

Como a ajuda humanitária afeta a situação alimentar em Gaza?

O volume anunciado – 170 mil toneladas pré‑posicionadas mais os caminhões em trânsito – pode alimentar os dois milhões e meio de habitantes da Faixa de Gaza por até três meses, reduzindo drasticamente o risco de fome generalizada que já foi classificada como fase 5 pela ONU.

Quais são os principais obstáculos à entrega de ajuda?

As restrições impostas pela Ordem Militar 1661/2023, que proíbe 37 categorias de itens, o risco de saques por grupos armados e a destruição de 67 % da rede rodoviária de Gaza dificultam a logística. Além disso, inspeções da IDF podem atrasar o fluxo, embora o tempo médio tenha caído para 45 minutos.

Qual o papel da Conferência Internacional de Paz?

A conferência, que acontecerá em Sharm El‑Sheikh nos dias 15 e 16 de outubro, reunirá representantes de 47 países para reforçar o cessar‑fogo, garantir recursos financeiros – estimados em mais de um bilhão de dólares – e consolidar um corredor humanitário capaz de manter 600 caminhões diários.

Quantas crianças estão em risco de desnutrição?

A UNICEF alerta que, se o fluxo de 600 caminhões não for mantido, cerca de 523 mil crianças menores de cinco anos podem sofrer desnutrição aguda até dezembro de 2025.

Qual a importância do Egito nesse processo?

O Egito controla o principal ponto de entrada terrestre para Gaza – o cruzamento de Rafah. A promessa de 400 caminhões nos próximos três dias, somada à recente melhoria da infraestrutura, é crucial para transformar o acordo de cessar‑fogo em ajuda efetiva no terreno.

1 Comment

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    Isa Santos

    outubro 14, 2025 AT 00:44

    Não dá pra fechar os olhos pra gente que está lá do outro lado, a situação é brutal.
    Cada caminhão que chega traz um suspiro de esperança, mas ainda falta muito pra fechar esse ciclo de fome.
    A política tem que colocar a cabeça no lugar, não só no discurso.
    Ver o número de crianças em risco deixa o peito apertado, a gente sente na pele o peso da injustiça.
    O Egito fez um passo, mas sem garantia de continuidade a esperança se desfaz.
    Enquanto isso, o mundo precisa agir antes que a tragédia vire rotina.

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